terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O cuidado no aumento do peso corporal em lutadores


A elevação no peso corporal necessita de um planejamento a fim de facilitar a adaptação à nova massa, com o objetivo de reduzir possíveis dificuldades no plano de luta por estar habituado aos quilos a menos. Nesse sentido, entra em questão a resistência, já que é o principal atributo minado com o peso extra não adaptado. Em razão disso, recomenda-se aumento gradual e policiado, para evitar também um ganho superior de massa gorda em relação à massa magra. Por este motivo, existe a necessidade da realização de avaliação física frequente para analisar a composição corporal. Através desse recurso, vários dados fundamentais para o planejamento serão fornecidos.

Para exemplificar e, ao mesmo tempo, evidenciar a necessidade de um planejamento, cito um combate do Pride Total Elimination 2004, um grand prix do extinto evento japonês de artes marciais mistas. Falo especificamente do combate entre Murilo “Ninja” Rua e Sergei Kharitonov. Foi um GP de pesos pesados, porém Ninja era um peso meio-médio no Pride FC (equivalente ao peso médio do UFC, aproximadamente 84 kg). Por conta disso, Murilo achou melhor ganhar peso a fim de diminuir a desvantagem física, já que poderia enfrentar lutadores de 120 kg ou mais. Todavia, Ninja se apresentou ao combate com um percentual de gordura corporal mais alto, o que presumiu uma conduta equivocada, pois apesar de estar mais pesado, a maior parcela dos quilos ganhos foram decorrentes do aumento na adiposidade. Inclusive o comentarista do Pride FC, Bas Rutten, chamou atenção aos flancos robustos de Murilo.

Um percentual de gordura fora do padrão para lutadores não é recomendado porque existem mais desvantagens do que a vantagem de simplesmente estar pesado. Além do custo metabólico, a performance fica comprometida por estar carregando um peso “não-funcional”, ou seja, como se estivesse carregando um saco de cimento ao lutar. Sacrifica-se, principalmente, o cardio, mesmo que o lutador esteja bem treinado. Um exemplo é o lutador Roy “Big Country” Nelson, conhecido pelas mãos pesadas e barriga saliente. Roy costuma sofrer no gás em combates mais longos, como é de conhecimento de seus oponentes, eles forçam Nelson a caminhar mais pelo octógono e assim induzí-lo ao cansaço mais rapidamente. 

O combate não durou muito tempo, ficou claro a superioridade de Sergei diante de Ninja. O gás de Ninja se esvaiu, com direito a golpes cronometrados e movimentação lenta, piorou com os contragolpes de Kharitonov e acabou nocauteado. Diante desses exemplos, fica a mensagem sobre a complexididade quando se fala no enquadramento em categorias de peso. Além do mais, existem muitas confusões no mundo da luta em relação à nutrição e aspectos físicos, assim como dogmas instituídos há anos. Em razão disso, lutadores precisam ser acompanhados por um nutricionista para que erros sejam reduzidos como preocupação demasiada com a balança e perda/limitação de performance. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário